Volvo XC60: luxo sueco a 80 mil euros que poucos podem pagar
Durante alguns dias, testámos o Volvo XC60 Plus, um SUV híbrido que custa mais de 80 mil euros. Para a maioria dos trabalhadores portugueses, é um sonho impossível, mas vale a pena perceber o que se esconde por trás deste preço astronómico.
Um preço que afasta as famílias portuguesas
Com um preço base de 75.291 euros, o modelo que testámos chegou aos 80.267 euros com extras. Para ter uma ideia, isto equivale a mais de quatro anos do salário mínimo nacional. Enquanto muitas famílias lutam para chegar ao fim do mês, a indústria automóvel continua a apostar em veículos de luxo inacessíveis.
O XC60 está no mercado há quase 20 anos, desde 2008, e foi renovado este ano. É um SUV compacto de luxo com motorização híbrida plug-in que promete consumos de apenas um litro por cada 100 quilómetros. Mas será que cumpre?
Potência que não se traduz em poupança
O motor híbrido combina um quatro cilindros turbocomprimido a gasolina com um motor elétrico, gerando 350 cavalos de potência. Acelera dos 0 aos 100 km/h em 5,7 segundos, mas pesa 2.660 quilos. A bateria de 19 kWh deveria garantir até 81 quilómetros de autonomia elétrica.
No entanto, a realidade é diferente. Durante o teste, os consumos ficaram nos 7,1 litros por cada 100 quilómetros, muito longe do prometido um litro. A autonomia elétrica também não chegou aos valores anunciados. Mais uma vez, as promessas da indústria não se concretizam na prática.
Interior luxuoso mas pouco intuitivo
Por dentro, o Volvo revela a sua herança nórdica: design sóbrio, materiais de qualidade e muito espaço. Os bancos são confortáveis, há sistema de som Harman Kardon e uma alavanca em cristal que dá um toque de luxo.
Mas nem tudo são rosas. A interface de infoentretenimento no ecrã central de 11,4 polegadas não é intuitiva e obriga o condutor a desviar a atenção da estrada. Para operar funções básicas como os modos de condução ou o ar condicionado, é preciso navegar por menus complexos.
Condução segura mas sem surpresas
Na estrada, o XC60 revela-se estável e previsível. As suspensões absorvem bem as irregularidades do piso e o habitáculo é silencioso. Os diferentes modos de condução (Hybrid, Pure, Power, Off-Road) alteram o comportamento do veículo de forma percetível.
As assistências à condução são competentes: cruise control adaptativo, assistente de manutenção na faixa, câmaras 360 graus. São tecnologias úteis, mas que deveriam estar disponíveis em veículos mais acessíveis.
Design que não envelhece
Exteriormente, o XC60 mantém as linhas elegantes típicas da Volvo. Os faróis em forma de martelo de Thor são inconfundíveis, as jantes de 20 polegadas chamam a atenção. Com 4,7 metros de comprimento, não é o mais moderno do mercado, mas tem personalidade própria.
Reflexão sobre prioridades
O Volvo XC60 é, sem dúvida, um bom automóvel. Mas questiona-se se faz sentido investir 80 mil euros num veículo quando tantas famílias portuguesas enfrentam dificuldades económicas. É um símbolo de uma sociedade onde o luxo de poucos contrasta com as necessidades de muitos.
Para quem tem posses, é uma opção válida. Para a maioria dos trabalhadores, continua a ser um sonho distante numa realidade onde os salários não acompanham o custo de vida.