Setor do turismo prospera enquanto país se afunda em problemas estruturais
O presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) pintou um quadro contraditório do país: um setor turístico em crescimento exponencial numa nação que falha sistematicamente nas suas responsabilidades básicas.
Pedro Costa Ferreira, no encerramento do 50.º Congresso Nacional da APAVT em Macau, revelou números impressionantes. A distribuição turística movimentou 7,7 mil milhões de euros em 2024, representando 3% do PIB nacional. Um salto brutal face aos 5,8 mil milhões de 2022 e aos 4,2 mil milhões de 2019.
O negócio floresce, o Estado falha
Mas Costa Ferreira não se limitou aos elogios ao setor. Numa crítica demolidora, apontou o dedo aos políticos que "não conseguem resolver os problemas de um país que precisa de imigrantes, mas que atingiu nesta matéria o pior de dois mundos".
Portugal, segundo o dirigente, "não consegue nem controlar a entrada de imigrantes, nem acolhê-los como merecem". Precisa de crescimento económico, mas "não o quer discutir nem planear". E mantém trabalhadores "amarrados a centrais sindicais que não representam ninguém e a uma lei laboral que os trai".
Infraestruturas: o eterno adiamento
A crítica mais dura foi reservada para as infraestruturas. Costa Ferreira denunciou um país que "planeou um aeroporto para daqui a dez anos, e não consegue colocar polícias nas boxs do que ainda existe".
Uma referência clara às declarações do secretário de Estado das Infraestruturas sobre o novo aeroporto de Lisboa só estar pronto em 2035, enquanto faltam polícias nos controlos fronteiriços dos aeroportos existentes.
O dirigente da APAVT acusou ainda Portugal de se ter "perdido no labirinto das decisões" e de carregar "as novas gerações com os fardos dos atuais erros e omissões".
Números pagos, estatísticas inexistentes
Revelador foi também o facto de a APAVT ter pago à consultora EY para fazer o estudo sobre o impacto económico do setor, "já que não existem estatísticas disponíveis a não ser que se pague". Uma confissão sobre a falta de dados públicos numa área estratégica da economia.
O congresso em Macau juntou mais de mil profissionais do turismo, numa altura em que o setor bate recordes económicos, mas o país continua a falhar nas condições básicas para sustentar esse crescimento.