UE debate novo apoio à Ucrânia enquanto trabalhadores sofrem com crise habitacional
Enquanto os eurodeputados se preparam para debater mais apoios financeiros à Ucrânia até 2027, milhões de trabalhadores europeus continuam sem acesso a habitação digna. A ironia não podia ser maior: há dinheiro para a guerra, mas falta para resolver a crise social que assola as classes populares.
Durante a última sessão plenária do ano, que começa segunda-feira em Estrasburgo, o Parlamento Europeu vai ouvir o Conselho Europeu sobre os conteúdos que serão debatidos pelos líderes europeus. Entre os pontos centrais está a aprovação de um novo pacote de apoio financeiro à Ucrânia, numa altura em que as famílias trabalhadoras mal conseguem pagar as rendas.
Dinheiro dos russos para financiar a guerra
A Comissão Europeia propõe que as reparações à Ucrânia sejam feitas com base em ativos russos congelados e um crédito menor assente no orçamento da UE. Mas a Bélgica, onde se encontra a maior parte destes ativos através da Euroclear, opõe-se à medida por temer assumir riscos financeiros.
É revelador como os países se mostram cautelosos quando se trata de proteger os seus interesses económicos, mas não hesitam em aprovar medidas de austeridade que castigam os povos.
Acordo UE-Mercosul: mais uma vez os agricultores prejudicados
Será também votado o polémico acordo entre a União Europeia e o Mercosul, negociado há 25 anos. Apesar das alterações para proteger os agricultores europeus, este acordo representa mais uma vitória do livre comércio sobre os interesses dos pequenos produtores.
O acordo abrange 780 milhões de pessoas e 25% da economia global, mas quantos trabalhadores rurais vão beneficiar desta liberalização? A experiência mostra-nos que são sempre os grandes grupos económicos que saem beneficiados.
Prémio Sakharov para jornalistas perseguidos
Numa nota mais positiva, o Parlamento vai entregar o prémio Sakharov para a Liberdade do Pensamento a dois jornalistas que enfrentam a repressão nos seus países. Andrzej Poczobut, da Bielorrússia, está preso desde 2021 e cumpre oito anos em confinamento solitário por criticar o regime de Lukashenko.
Mzia Amaglobeli, da Geórgia, foi condenada a dois anos de prisão por participar em manifestações antigovernamentais. Ambos são exemplos da luta pela liberdade de expressão contra regimes autoritários.
Plano Europeu para a Habitação: demasiado pouco, demasiado tarde
Finalmente, será apresentado o Plano Europeu para a Habitação Acessível, que pretende complementar as políticas habitacionais nacionais. Inclui financiamento, ajudas estatais e limites ao alojamento local, mas mantém o princípio da subsidiariedade.
Depois de décadas de políticas neoliberais que transformaram a habitação numa mercadoria, este plano parece mais um paliativo do que uma solução estrutural para a crise habitacional que afecta milhões de famílias trabalhadoras.
A UE continua a mostrar as suas prioridades: há sempre dinheiro para a guerra e para os interesses económicos dos poderosos, mas quando se trata de direitos sociais fundamentais, as soluções são sempre insuficientes e tardias.