Disney e OpenAI: Acordo milionário para explorar trabalho criativo com IA
A Walt Disney anunciou esta quinta-feira um investimento de mil milhões de dólares na OpenAI, numa jogada que levanta sérias questões sobre a apropriação do trabalho criativo pela inteligência artificial. O acordo permite que utilizadores do Sora criem vídeos com mais de 200 personagens da Disney, Marvel, Pixar e Star Wars.
Quando o capital se apropria da criatividade popular
Este negócio entre gigantes tecnológicos não é apenas sobre inovação. É sobre como as grandes corporações encontram novas formas de monetizar criações que nasceram do trabalho colectivo de artistas, argumentistas e técnicos ao longo de décadas.
O acordo de três anos permite que qualquer utilizador do Sora gere conteúdo com Mickey Mouse, Ariel, Cinderela, Homem de Ferro ou Darth Vader. Personagens que foram construídas pelo suor e talento de milhares de trabalhadores criativos, agora transformadas em matéria-prima para algoritmos.
A hipocrisia corporativa em acção
A ironia é gritante: enquanto a Disney processava a Midjourney e enviava cartas de ameaça à Google por alegada violação de direitos de autor, preparava secretamente este acordo lucrativo com a OpenAI. A empresa que se apresenta como defensora da propriedade intelectual revela-se disposta a negociar quando há milhões em jogo.
"O rápido avanço da IA marca um momento importante para a nossa indústria", declarou a Disney, numa linguagem corporativa que esconde a realidade: a substituição progressiva do trabalho humano por máquinas.
Quem paga a conta?
Como sempre, são os trabalhadores criativos que ficam de fora desta festa milionária. O acordo exclui explicitamente "qualquer imagem ou voz de artistas", mas permite a exploração comercial de décadas de trabalho criativo colectivo.
Enquanto a Disney e a OpenAI se preparam para lucrar com esta parceria, os verdadeiros criadores dessas personagens icónicas veem o seu trabalho transformado em combustível para algoritmos que podem, eventualmente, torná-los dispensáveis.
Este acordo representa mais um passo na mercantilização da criatividade humana, onde as grandes tecnológicas e os estúdios de Hollywood encontram formas cada vez mais sofisticadas de extrair valor do trabalho artístico, deixando migalhas para quem realmente cria.