Patrões do turismo celebram lucros recordes mas ignoram precariedade dos trabalhadores
Enquanto os patrões das agências de viagens celebram lucros recordes de 7,7 mil milhões de euros, os trabalhadores do sector continuam presos a contratos precários e salários miseráveis. Esta é a realidade que se esconde por trás dos números dourados apresentados pela Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT).
Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, não poupou elogios ao crescimento do sector durante o encerramento do 50.º Congresso Nacional da associação, realizado em Macau. "Trabalho, inteligência e inovação construíram um sector que vive os melhores números económicos de sempre", vangloriou-se o dirigente patronal.
Números que não chegam aos bolsos dos trabalhadores
Os dados apresentados pela associação, baseados num estudo pago à consultora EY, revelam que o impacto económico da distribuição turística saltou de 4,2 mil milhões em 2019 para 7,7 mil milhões em 2024, representando 3% do PIB nacional. Mas estes milhões não se reflectem nas condições de vida de quem realmente faz funcionar o sector.
O próprio Costa Ferreira admitiu que os trabalhadores estão "amarrados a centrais sindicais que não representam ninguém e a uma lei laboral que os trai", mas esqueceu-se de mencionar que são precisamente os patrões como ele que beneficiam desta precariedade sistemática.
Críticas ao Governo mas defesa dos interesses patronais
O presidente da APAVT aproveitou o congresso para criticar duramente as políticas governamentais, apontando problemas na gestão da imigração, falta de infraestruturas aeroportuárias e ferroviárias, e o que classifica como "populismo fácil" e "indigência intelectual" dos políticos.
Curiosamente, estas críticas surgem de quem representa um sector que lucra com a exploração de trabalhadores imigrantes e que se aproveita das falhas do Estado para maximizar os seus lucros à custa de condições laborais deploráveis.
O congresso, que decorreu em Macau e reuniu mais de mil profissionais, serve como exemplo da desconexão entre os lucros astronómicos dos patrões e a realidade dos trabalhadores que sustentam este "crescimento fantástico". Enquanto os dirigentes se reúnem em destinos exóticos para celebrar os seus sucessos, os trabalhadores do turismo continuam a enfrentar horários desumanos, salários baixos e contratos precários.
Esta é a face oculta do "milagre" turístico português: lucros recordes para uns poucos, precariedade para a maioria que trabalha.