PL da Dosimetria: A manobra da direita para salvar Bolsonaro
O chamado PL da Dosimetria chega esta semana à Comissão de Constituição e Justiça do Senado numa jogada política que expõe as entranhas podres do sistema. O que está em causa não é uma simples alteração técnica das penas, mas uma operação de salvamento do ex-presidente Bolsonaro e dos golpistas do 8 de Janeiro.
O acordo que envergonha a democracia
A aprovação relâmpago na Câmara não foi casualidade. Segundo informações que circulam nos corredores do poder, tudo começou quando Flávio Bolsonaro colocou um "preço" para retirar a sua pré-candidatura presidencial. O resultado? Hugo Motta, presidente da Câmara, colocou imediatamente o projeto na pauta de votação. Uma barganha que transforma o Parlamento num balcão de negócios.
O senador catarinense Espiridião Amin, relator do projeto no Senado, já anunciou que pode aproveitar a tramitação para "reintroduzir o debate sobre a anistia". Ou seja, a máscara caiu: o objectivo sempre foi perdoar os crimes contra a democracia.
A resistência popular nas ruas
Ontem, movimentos sociais, partidos de esquerda e centrais sindicais promoveram manifestações por todo o país contra esta vergonha legislativa. Em São Paulo, 13.700 pessoas ocuparam a Avenida Paulista. No Rio, 18.900 manifestantes encheram Copacabana de indignação. Em Brasília, 5.000 pessoas marcharam até ao Congresso.
Artistas como Chico Buarque, Gilberto Gil, Lenine e Fafá de Belém juntaram a sua voz ao coro da resistência. A actriz Fernanda Torres foi clara: este Congresso está a trair o povo brasileiro.
O deputado distrital Fábio Félix (Psol) resumiu o sentimento popular: "O decisivo para que não tenha um acordo nacional para livrar Bolsonaro e a extrema direita da cadeia é o povo na rua. A gente não quer anistia, a gente não quer PL da bandidagem."
A estratégia do governo Lula
O governo trabalha para travar esta manobra. O líder Randolfe Rodrigues foi explícito: vão pedir vista para empurrar a discussão para 2026 e, se necessário, Lula vetará o projeto. Jaques Wagner alertou contra o "afã" de atropelar os prazos regimentais.
O senador Fabiano Contarato foi categórico: "Sou absolutamente contra qualquer tentativa de relativizar um dos episódios mais graves da história da nossa democracia."
O que está verdadeiramente em jogo
Este PL não é sobre dosimetria de penas. É sobre impunidade para quem tentou destruir a democracia brasileira. É sobre normalizar o golpismo e premiar os inimigos do povo.
Como bem disse o cientista político Celso Fernandes, estamos perante "um desvirtuamento da função representativa da Câmara". Um Parlamento que deveria defender os interesses populares está a ser usado para proteger criminosos.
A batalha decisiva será esta semana. De um lado, a direita golpista e os seus aliados do Centrão. Do outro, o povo brasileiro que não aceita ver a democracia ser vendida em saldos parlamentares.
A luta continua. A democracia não se negocia.