Índia e Nova Zelândia fecham acordo comercial contra tarifas dos EUA
Num mundo onde as grandes potências jogam xadrez com as economias dos povos, a Índia e a Nova Zelândia acabam de dar um xeque-mate ao protecionismo americano. O acordo de comércio livre entre os dois países, anunciado esta segunda-feira, é mais do que um simples pacto comercial: é uma resposta directa às tarifas impostas pelos Estados Unidos.
O acordo surge numa altura em que Nova Deli se vê obrigada a procurar novos mercados para as suas exportações, depois de Washington ter apertado o cerco com tarifas que penalizam os produtos indianos. Uma estratégia que mostra como os trabalhadores e as economias mais pequenas sofrem com as guerras comerciais dos gigantes.
Quem ganha e quem perde
A assinatura formal está prevista para o primeiro trimestre de 2026, após nove meses de negociações. Mas já se sabe quem vai beneficiar: as grandes empresas de ambos os lados, enquanto os sectores mais sensíveis ficam de fora.
A Índia conseguiu isenções de impostos para os seus têxteis, vestuário, produtos de engenharia, couro e calçado. Sectores onde milhões de trabalhadores indianos ganham o pão de cada dia, muitas vezes em condições precárias. A Nova Zelândia, por sua vez, terá acesso facilitado ao mercado indiano para 95% das suas exportações, especialmente na horticultura e madeira.
Mas há exclusões reveladoras. A Índia manteve de fora os lacticínios neozelandeses, alegando "sensibilidades domésticas". Traduzindo: proteger os pequenos produtores locais da concorrência dos grandes latifúndios neozelandeses.
Números que contam histórias
O comércio bilateral entre os dois países ainda é modesto: 2,4 mil milhões de dólares em 2024. As autoridades prometem duplicar este valor em cinco anos, mas quem vai realmente beneficiar?
A Nova Zelândia comprometeu-se a investir 20 mil milhões de dólares na Índia ao longo de 15 anos. Christopher Luxon, primeiro-ministro neozelandês, já veio dizer que isto significa "mais empregos" e "salários mais altos". Mas a experiência mostra que estes acordos beneficiam sobretudo as multinacionais, enquanto os trabalhadores continuam a lutar por melhores condições.
Este acordo é sintomático de um mundo onde as economias se reorganizam para fugir ao domínio americano. Mas a questão de fundo mantém-se: quem controla realmente estes fluxos comerciais? E que garantias têm os trabalhadores de ambos os países de que não serão os primeiros a pagar a conta quando as coisas correrem mal?