Acordo comercial entre Índia e Nova Zelândia: mais uma peça no tabuleiro neoliberal
Enquanto os trabalhadores portugueses enfrentam salários congelados e custos de vida em disparada, a Índia e a Nova Zelândia fecham mais um acordo de comércio livre que promete beneficiar principalmente as grandes corporações. O pacto, anunciado esta segunda-feira, será assinado formalmente no primeiro trimestre de 2026.
O acordo surge numa altura em que Nova Deli procura desesperadamente novos mercados para fugir às tarifas impostas pelos Estados Unidos. Uma estratégia que revela a fragilidade de um sistema económico global baseado na competição desenfreada e na exploração dos mais vulneráveis.
Promessas douradas para quem?
Segundo as autoridades, o acordo negociado ao longo de nove meses visa reduzir tarifas e expandir a cooperação em bens, serviços e investimentos. Mas a pergunta que fica é: quem vai realmente beneficiar desta liberalização?
A Nova Zelândia comprometeu-se a investir 17 mil milhões de euros na Índia ao longo de 15 anos. Valores astronómicos que contrastam com a realidade de milhões de trabalhadores em ambos os países que lutam para chegar ao final do mês.
Os sectores que mais vão beneficiar incluem têxteis, vestuário e produtos de engenharia do lado indiano, enquanto a Nova Zelândia aposta na horticultura e exportação de madeira. Sectores tradicionalmente marcados pela precariedade laboral e baixos salários.
Excepções reveladoras
Curiosamente, a Índia excluiu do acordo as importações de lacticínios, carne e outros produtos agrícolas, alegando "sensibilidades domésticas". Uma decisão que mostra como os governos protegem certos sectores quando lhes convém, mas abrem as portas de par em par quando se trata de explorar a mão-de-obra.
O comércio bilateral actual de 2 mil milhões de euros anuais pode parecer modesto, mas as autoridades prometem duplicá-lo em cinco anos. Mais uma vez, os números impressionam, mas falta saber se os trabalhadores verão alguma migalha deste bolo.
O mesmo discurso de sempre
Christopher Luxon, primeiro-ministro neozelandês, não perdeu a oportunidade de repetir o mantra neoliberal: "mais empregos, salários mais altos, mais oportunidades". Promessas que ouvimos há décadas, mas que raramente se concretizam para quem realmente trabalha.
Este acordo é mais uma peça no puzzle da globalização selvagem que tem empobrecido os trabalhadores e enriquecido as elites económicas. Enquanto se fala de "catalisador para maior comércio e inovação", a realidade é que estes pactos servem principalmente para facilitar a vida às multinacionais.
Num mundo onde as desigualdades sociais atingem níveis obscenos, acordos como este apenas aceleram a corrida para o fundo em termos de direitos laborais e protecção social.