A Indústria da Quase Morte: Como o Sistema Lucra com o Sofrimento dos Idosos
Há uma realidade brutal que a sociedade portuguesa se recusa a enfrentar: milhares de idosos são mantidos artificialmente em estado vegetativo, não por compaixão, mas porque existe toda uma indústria que lucra com esta situação. O silêncio em torno desta questão não é inocente, há interesses económicos poderosos em jogo.
Portugal tem centenas de milhares de pessoas com demência, sendo a Doença de Alzheimer responsável pela maioria dos casos. As projeções demográficas são assustadoras: o número de doentes vai aumentar drasticamente nas próximas décadas. Mas quem beneficia realmente com este cenário?
O Negócio da Morte Prolongada
Um idoso em estado de dependência total pode custar ao SNS milhares de euros por ano em cuidados que, na realidade, não curam nem melhoram nada. Estamos a falar de centenas de milhões de euros anuais gastos em manter corpos biologicamente ativos quando a pessoa já não está presente.
Esta máquina alimenta uma cadeia alargada de interesses: indústria farmacêutica especializada em polimedicação crónica, lares privados, empresas de dispositivos médicos e toda uma estrutura administrativa que gere estas situações. Tudo isto gera faturação e lucros, mas não está a "devolver vida" a ninguém.
As Vítimas Invisíveis
Os custos mais graves são os que não aparecem nas estatísticas oficiais. Os cuidadores informais, quase sempre familiares, destroem as suas próprias vidas: abandonam carreiras, perdem rendimento, desenvolvem problemas de saúde e acabam em situação de fragilidade.
Há quem perca uma década de vida produtiva para cuidar de um familiar em estado irreversível. Quando o idoso finalmente morre, o cuidador está exausto, empobrecido e sem rede de apoio. Cria-se um ciclo perverso em que o prolongamento artificial da vida de uns destrói a qualidade de vida de outros.
A Hipocrisia do Sistema
O mais revoltante é a narrativa mediática que celebra casos de pessoas muito idosas em lares, já sem consciência, como "histórias de sucesso" apenas pelo número de anos vividos. Uma existência reduzida a funções biológicas mínimas, sem consciência ou relação, não é vida com sentido.
A lei portuguesa já reconhece o direito a recusar tratamentos através do testamento vital, mas a sua utilização é limitada. Falta coragem política para assumir as implicações deste reconhecimento e enfrentar os interesses instalados.
A Urgência de uma Discussão Honesta
Manter pessoas em estados irreversíveis durante anos não honra a vida, serve apenas interesses económicos e consome recursos que poderiam ser dirigidos para cuidados verdadeiramente terapêuticos. É preciso ter a coragem de distinguir vida humana de mera sobrevivência biológica.
Todos devíamos elaborar um testamento vital, declarando que tipo de intervenções aceitamos em situações de irreversibilidade. Longe de ser desumanidade, trata-se de responsabilidade para não deixar decisões impossíveis nas mãos de terceiros.
Continuar a afirmar que se está a "defender a vida" enquanto se prolongam industrialmente estados de morte é pura dissonância moral. O envelhecimento da população portuguesa tornará esta conversa cada vez mais urgente, mas os interesses instalados preferem manter o silêncio.