YouTube rouba Óscares à Disney numa jogada milionária que expõe a crise da televisão tradicional
Numa reviravolta que deixou os executivos da Disney em choque, o YouTube conseguiu arrebatar os direitos de transmissão dos Óscares à gigante do entretenimento, numa operação que custou mais de 100 milhões de dólares e marca o fim de uma era na televisão tradicional.
A partir de 2029, será a plataforma de vídeos do Google a transmitir a cerimónia dos Óscares para todo o mundo, pondo fim a 53 anos de exclusividade do canal ABC, propriedade da Disney. O acordo, válido até 2033, representa muito mais do que uma simples mudança de canal: é o sintoma de uma indústria televisiva em profunda crise.
A queda livre das audiências tradicionais
Os números são impiedosos e revelam a dimensão da crise. Há apenas uma década, os Óscares reuniam regularmente mais de 40 milhões de espectadores, permitindo à Academia negociar contratos milionários com a ABC. Este ano, mesmo com um ligeiro crescimento, a cerimónia não passou dos 19,69 milhões de telespectadores nos EUA e Canadá.
Durante a pandemia, a audiência despencou para uns históricos 10,4 milhões, um número que deixou claro que os tempos dourados da televisão tradicional chegaram ao fim. As plataformas digitais captaram os espectadores mais jovens, que abandonaram em massa os canais convencionais.
Disney apanhada de surpresa
Segundo fontes da revista Variety, os executivos da Disney foram informados do acordo apenas momentos antes do comunicado oficial da Academia. Esperavam perder os direitos para a NBCUniversal, mas nunca imaginaram que uma plataforma digital pudesse superar as suas propostas de forma tão categórica.
O YouTube ofereceu "mais de nove dígitos" (acima de 100 milhões de dólares), superando largamente as propostas da Disney e da NBCUniversal, que ficaram na casa dos "oito dígitos". Uma diferença que espelha a nova realidade do mercado audiovisual.
Controlo total sobre o espectáculo
Para além do aspecto financeiro, o acordo permite à Academia assumir controlo total sobre a produção da cerimónia, evitando as "discordâncias ocasionais" com a ABC sobre formato, duração e escolha de apresentadores. Uma liberdade criativa que a televisão tradicional, presa aos seus formatos rígidos, não conseguia oferecer.
O YouTube vai transmitir não apenas a cerimónia principal, mas também a cobertura da passadeira vermelha, conteúdos de bastidores, o Governors Ball e outros eventos relacionados, tudo de forma gratuita para espectadores de todo o mundo.
Globalização versus tradição
"Estamos muito felizes por estabelecer uma parceria global multifacetada com o YouTube", declararam Bill Kramer e Lynette Howell Taylor, da Academia, sublinhando que a plataforma permitirá "expandir o acesso ao trabalho da Academia ao maior público mundial possível".
Neal Mohan, presidente executivo do YouTube, promete "inspirar uma nova geração de criativos e cinéfilos", mantendo-se "fiéis ao legado histórico dos Óscares".
Resta saber se esta mudança conseguirá realmente rejuvenescer uma cerimónia que tem lutado para manter a relevância numa época de fragmentação mediática crescente, ou se representa apenas mais um passo na mercantilização total do entretenimento pelas gigantes tecnológicas.