Natal popular: dicas para uma mesa farta sem arruinar o orçamento
Enquanto os preços dos alimentos disparam e as famílias trabalhadoras sentem o peso da crise no bolso, ainda é possível manter as tradições natalícias na mesa sem grandes gastos. Paulo Oliveira, criador de conteúdos gastronómicos, partilha truques essenciais para quem quer celebrar sem comprometer o orçamento familiar.
Doces tradicionais ao alcance de todos
Para Paulo, o Natal português não se compreende sem os doces mais populares. "Arroz-doce! É uma opção pessoal, mas que acredito que muita gente irá concordar. Depois, claro, há sempre vários doces que, tradicionalmente, nunca podem faltar nesta altura, como é o caso dos sonhos ou do bolo-rei", explica.
Mas atenção aos erros que podem estragar o trabalho e desperdiçar ingredientes preciosos. "As rabanadas são mais simples de fazer, não havendo, por norma, muitos processos que possam correr mal. No caso dos sonhos e das filhós, o que pode correr mal, na maioria das vezes, é a questão de usar o óleo à temperatura errada", alerta.
O segredo está na paciência, algo que o ritmo capitalista nos rouba. "Anda tudo à pressa e, principalmente na cozinha, a pressa é inimiga da perfeição", observa Paulo. Para as famílias que trabalham longas horas, a dica é clara: "há processos que podem (e, muitas vezes, devem!) ser feitos com antecedência!"
Rabanadas perfeitas com truques simples
Para uma rabanada que não decepcione, Paulo sugere: "a utilização de vinho do Porto na calda, bem como usar menos ovos que o normal. A rabanada deve ser húmida por dentro e, portanto, quanto mais ovo, mais compacta vai ficar".
E para quem procura sabor sem excessos de açúcar: "Adicionar mais aromáticos é uma excelente opção, pois dá mais sabor aos doces. Eu, pessoalmente, gosto dos doces menos doces e mais saborosos".
Para receitas infalíveis, a sugestão é a clássica Baba de Camelo: "É um doce e receita impossível falhar, feito apenas com dois ingredientes e em pouco minutos".
Bacalhau: o rei da mesa popular
O bacalhau mantém-se como prato central das mesas portuguesas. "Bacalhau com todos! É um prato tradicional e que está sempre presente nesta altura do ano", confirma Paulo.
Mas é preciso saber escolher e preparar para não desperdiçar este investimento familiar. "O bacalhau é um dos pratos onde cometemos mais erros, seja na escolha, na demolha, no corte ou na conserva".
A técnica de demolha é crucial: "Uma das regras mais importantes é colocar a pele para cima, mudar a água 2-3 vezes por dia e sempre com água bem fria". Paulo recomenda ainda colocar uma grelha no fundo do recipiente para evitar contacto directo com o sal.
Alternativas para todos os bolsos
Para quem não consegue investir no bacalhau, há opções tradicionais mais acessíveis: "polvo, cabrito, peru ou lombo assado. São pratos, também eles, muito tradicionais e ao alcance da maior parte das pessoas".
Organização contra o desperdício
A organização é fundamental para as famílias que não podem dar-se ao luxo de desperdiçar. "Tudo o que possa ser feito nas vésperas, façam! Doces, principalmente, mas até marinadas e batatas descascadas!"
E para reaproveitar sobras, Paulo tem várias sugestões práticas: "O bacalhau transforma-se facilmente em Roupa Velha, arroz de bacalhau, pataniscas ou até uma açorda. As carnes assadas dão ótimos arrozinhos de forno, empadas, sandes quentes".
No fundo, como observa Paulo Oliveira, o Natal à mesa não se mede apenas nas receitas, mas no prazer de partilhar momentos com quem se ama. Entre a crise económica e a pressão social, o verdadeiro segredo está na calma, na organização e em saborear com a família, independentemente do que se pode pagar.