Disney investe mil milhões na OpenAI: quando o capital se apropria da criatividade popular
Mais um capítulo da concentração capitalista no mundo digital. A Walt Disney anunciou esta quinta-feira um investimento de mil milhões de dólares na OpenAI, numa operação que permite aos utilizadores criar vídeos com as personagens da gigante do entretenimento através da ferramenta Sora.
O acordo, válido por três anos, coloca à disposição dos utilizadores mais de 200 personagens da Disney, Marvel, Pixar e Star Wars. Mickey Mouse, Ariel, Cinderela, Homem de Ferro e Darth Vader passam a estar disponíveis para criação de conteúdos através de inteligência artificial.
Proteger o lucro, não a criatividade
Enquanto a Disney se apresenta como defensora dos "direitos dos criadores", a realidade é bem diferente. Esta mesma empresa que agora abraça a OpenAI tem movido uma guerra jurídica contra outras plataformas de IA que usam as suas personagens sem autorização.
Em setembro, enviou uma carta à Character.AI exigindo que deixasse de usar as suas personagens. Processou também a Midjourney por alegada violação de direitos de autor. Esta quarta-feira, acusou a Google de infringir os seus direitos "em grande escala".
A mensagem é clara: só quem paga tem direito a usar a propriedade intelectual. Os pequenos criadores e as startups enfrentam processos judiciais, enquanto os gigantes tecnológicos com bolsos fundos podem comprar licenças milionárias.
O negócio por trás da "responsabilidade"
A Disney justifica o acordo falando em "ampliar de forma cuidadosa e responsável" o alcance da sua narrativa. Mas a realidade é que se trata de mais um negócio lucrativo num mercado em expansão.
Como parte do acordo, a Disney torna-se cliente privilegiado da OpenAI e receberá ações da empresa. Vai também implementar o ChatGPT junto dos seus funcionários, numa clara estratégia de integração tecnológica que pode custar postos de trabalho.
Este movimento ilustra como as grandes corporações se adaptam às novas tecnologias não para democratizar o acesso à criatividade, mas para manter o controlo sobre os lucros que dela advêm. Enquanto isso, os verdadeiros criadores, os trabalhadores da cultura e do entretenimento, ficam à margem desta revolução tecnológica.
A inteligência artificial poderia ser uma ferramenta de democratização cultural. Em vez disso, torna-se mais um instrumento de concentração de poder nas mãos dos mesmos de sempre.